terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Suficiência Formal das Escrituras (Pais da Igreja dos Séculos I, II e III) - Parte 2

Clemente de Roma (35-95)

Irmãos, sede cheios de imitação e zelo no que se refere à salvação. Vós vos curvastes sobre as Sagradas Escrituras, essas verdadeiras Escrituras dadas pelo Espírito Santo. Sabeis que nada de injusto e de falso está escrito nelas. (1 Clemente 45:1-3)

Caríssimos, conheceis, e conheceis bem, as Sagradas Escrituras, e vos inclinastes sobre as palavras de Deus. Nós vos escrevemos essas coisas para recordar. (1 Clemente 53:1)

Estas são passagens menos explícitas. Podemos perceber que os crentes de Corinto conheciam as Escrituras e ao invés de instrui-los a respeito do seu infalível significado, Clemente pretende apenas lembra-los de seu conteúdo – uma atitude que seria incompatível para alguém que não cresse na perspicácia dos livros sagrados.

Policarpo de Esmirna (69-155)

Creio que sois bem versados nas Sagradas Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido. Nessas Escrituras está dito: “Encolerizai-vos e não pequeis, e que o sol não se ponha sobre vossa cólera.” Feliz quem se lembrar disso. Acredito que é assim convosco. (Aos Filipenses cap. 12)

Policarpo escreve aos Filipenses de forma semelhante a Clemente, procurando lembrar verdades que os crentes já conheciam das Sagradas Letras.

Irmãos, não é por mim mesmo que vos escrevo essas coisas sobre a justiça, mas porque vós mesmos o pedistes a mim. De fato, nem eu, nem qualquer outro como eu pode se aproximar da sabedoria do bem-aventurado e glorioso Paulo. Ele, estando entre vós, falando pessoalmente aos homens de então, ensinou com exatidão e força a palavra da verdade e depois de partir, vos escreveu cartas. Se as lerdes atentamente, podereis edificar-vos na fé que vos foi dada. (Aos Filipenses cap. 3)

O bispo os instrui a lerem atentamente as cartas de Paulo, que seriam suficientes para edifica-los na fé recebida pelo apóstolo. Nesta geração, já não estavam aqueles que ouviram Paulo, mas eles poderiam conhecer a fé pregada pela leitura das cartas.

Inácio de Antioquia (35 – 107)

É que ouvi alguns dizerem: “Se não o encontro nos documentos antigos, não dou fé ao Evangelho”. Dizendo eu a eles “Está escrito”, responderam-me: “É o que se deve provar” Para mim, documentos antigos são Jesus Cristo; para mim documentos invioláveis constituem a Sua Cruz, Sua Morte, Sua Ressurreição, como também a Fé que nos vem d'Ele! Nisso é que desejo, por vossa oração, ser justificado. (Aos Filadelfienses cap. 8)

Inácio responde ao argumento de que o evangelho de Cristo não constava dos documentos antigos (antigo testamento). Ele objeta dizendo que está, e aponta para a mensagem do novo testamento. O bispo de Antioquia respondeu ao argumento apelando à outra parte das Escrituras e não a algum magistério infalível. Essa é uma prática comum dos pais da Igreja quando lidavam com controvérsias doutrinárias. Eles sempre argumentavam a partir da Escritura. Mas seria inútil argumentar usando uma fonte obscura demais para ser compreendida, a atitude natural seria apontar para o ensino final e infalível do magistério – o que os romanistas fazem atualmente. O comportamento geral dos pais se adequa melhor a uma noção de suficiência formal.

Pais, "criem seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor"; e os ensinem as Sagradas Escrituras, e também instruam para que eles não sejam preguiçosos. Agora [a Escritura] diz: "Um pai justo educa [seus filhos] bem, seu coração se alegrará num filho sábio." (Aos Filadelfienses cap. 4 – versão longa)

Essa citação foi tirada da versão longa, muitos estudiosos acreditam que se trata de uma adição posterior. Ainda que seja, trata-se de uma adição antiga. Não é dito muita coisa sobre a perspicácia da Escritura, mas Inácio pressupõe que as Escrituras podem ser compreendidas por crianças e que seus pais seriam professores habilitados.

Justino Mártir (100 – 165)

Eu tenho o propósito de citar para vocês as Escrituras, não porque eu esteja ansioso em fazer apenas uma exposição artística de palavras, pois eu não possuo tal faculdade, mas porque tenho de Deus a graça a mim concedida para a compreensão de suas Escrituras. (Diálogo com Trifão Cap 58)

Essa citação é importante porque Justino não era um sacerdote, não era bispo ou presbítero, portanto, não fazia parte da hierarquia da Igreja. Ele, sendo um leigo, compreendia que a graça de Deus lhe permitia compreender as Escrituras, como creem os evangélicos.

 E eu respondi: "Eu não iria apresentar essas provas, Trifão, pelo qual estou ciente que aqueles que adoram estes [ídolos] estão condenados, mas a tais [provas] ninguém poderia encontrar qualquer objeção. Elas irão parecer estranhas a você, embora você as lê todos os dias; de modo que mesmo a partir deste fato, entendemos que, por causa de sua maldade, Deus tem o impedido de discernir a sabedoria de suas Escrituras; Ainda [há] algumas exceções, a quem, de acordo com a graça de sua longanimidade, como disse Isaías, Ele deixou uma semente de salvação, para que o seu povo seja totalmente destruído, como Sodoma e Gomorra. Preste atenção, pois, àquilo que eu vou registrar fora das Escrituras sagradas, que não precisam ser expostas, mas apenas ouvidas. (Ibid., Cap 55)

Justino reconhece que Deus tirou o entendimento de Trifão, mas ainda diz que as Escrituras são claras a ponto de precisarem apenas ser ouvidas e compreendidas.

Irineu de Lyon (130 – 202)

Em compensação, uma inteligência sã, equilibrada, piedosa e amante da verdade dedicar-se-á a considerar as coisas que Deus pôs em poder dos homens, à disposição dos nossos conhecimentos, e aplicando-se a elas com todo o seu ardor, progredirá e, pelo estudo constante, terá conhecimento profundo. Estas coisas são tudo o que cai debaixo dos nossos olhares e tudo o que está contido, claramente e sem ambiguidade, em termos próprios nas Escrituras. Eis por que as parábolas não devem ser adaptadas a coisas ambíguas, porque quem as explica o deve fazer sem acrobacias e devem ser explicadas por todos da mesma maneira, e assim o corpo da verdade se manterá íntegro, harmoniosamente estruturado e livre de transformações (...) Ora, todas as Escrituras, profecias e evangelhos, que todos têm a possibilidade de ouvir, ainda que nem todos acreditem, proclamam claramente e sem ambiguidade , excluindo qualquer outro, que um só e único Deus criou todas as coisas por meio de seu Verbo, as visíveis e as invisíveis, as celestes e as terrestres, as que vivem na água e as que se arrastam debaixo da terra, como demonstramos com as próprias palavras da Escritura. Por seu lado, o mundo em que nós estamos, por tudo o que apresenta aos nossos olhares, testemunha que é único quem o fez e o governa. Então, como parecem néscios os que diante de manifestação tão clara, estão com os olhos cegos e não querem ver a luz da pregação, que se fecham em si mesmos e com explicações obscuras das parábolas se imaginam, cada um, de ter encontrado o seu Deus! Com efeito, no que diz respeito ao Pai imaginado por eles, nenhuma Escritura diz algo claramente, em termos próprios e sem contestação possível; e eles próprios são testemunhas disso quando afirmam que o Salvador ensinou estas coisas secretamente, não a todos, mas a alguns discípulos capazes de entendê-las, indicando-as por meio de provas, enigmas e parábolas. E chegam ao ponto de dizer que um é o que é chamado Deus e outro é o Pai, indicado pelas parábolas e pelos enigmas. (Contra as Heresias 2:27:1-2)

Irineu falava contra os gnósticos. Eles afirmavam que a Escritura era ambígua e de difícil compreensão, por isso, era necessário seguir a tradição oral originada nos apóstolos para compreender corretamente as parábolas de Jesus – uma posição semelhante ao catolicismo romano. Como o bispo os responde? Apontando para a interpretação de um magistério infalível? Seria a reação natural de qualquer católico romano, mas não, aponta para a clareza das Escrituras. Irineu argumenta que as Escrituras são tão claras que não é necessário fazer acrobacias para explica-las. Ou seja, não precisamos tornar complexo o que é simples e claro.

Quando são vencidos pelos argumentos tirados das Escrituras retorcem a acusação contra as próprias Escrituras, dizendo que é texto corrompido, que não tem autoridade, que se serve de expressões equívocas e que não podem encontrar a verdade nele os que desconhecem a Tradição. Com efeito - dizem eles - a verdade não foi transmitida por escrito, mas por viva voz, o que levou Paulo a dizer: "É a sabedoria que pregamos entre os perfeitos, não, porém, uma sabedoria deste século". E cada um deles diz que esta sabedoria é a que ele descobriu, ou melhor, inventou, e assim se torna normal que a verdade se encontre ora em Valentim, ora em Marcião, ora em Cerinto e depois em Basílides ou nalgum outro contendente, sem nunca ter podido afirmar nada acerca da salvação. Cada um deles está tão pervertido que, falsificando a regra da verdade, não cora de vergonha ao pregar a si mesmo. (Ibid., 3:2:1)

Irineu denuncia nos gnósticos algo que os romanistas também fazem. Ambos acusam as Escrituras de serem obscuras, ambíguas e difíceis de entender..

Ademais em toda a carta, o apóstolo [Paulo] afirma claramente que nós fomos salvos pela carne de nosso Senhor e pelo seu sangue. (Ibid., 5:14:3)

Leia com maior diligência aquele evangelho que nos foi dado pelos apóstolos; e leia com maior diligência os profetas, e você encontrará cada ação e toda a doutrina de Nosso Senhor neles pregados. (Ibid., 4:66)

O bispo de Lyon instrui a ler com diligência o evangelho apostólico e os profetas – uma provável referência à novo e antigo testamento. O leitor individualmente conseguiria perceber cada ação e doutrina pregada pelo Senhor.

Teófilo de Antioquia (? – 186)

Portanto, não sejas incrédulo, mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse, mas agora, depois de refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas Escrituras dos santos profetas, os quais, inspirados pelo Espírito de Deus, predisseram o passado como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro tal como se cumprirá. Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de terem sido preditas não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus. Eu te peço: submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que crer mais tarde em tormentos eternos. Esses tormentos foram preditos pelos profetas, e os poetas e filósofos, posteriores a eles, os imitaram a partir das Sagradas Escrituras, para dar autoridade aos seus ensinamentos. Desse modo, eles também falaram antecipadamente dos castigos que recairão sobre os ímpios e incrédulos, para que ficassem testemunhados para todos e ninguém pudesse dizer: "Não ouvimos falar disso, nem sabemos". Se quiseres, lê tu também com interesse as Escrituras dos profetas e elas te guiarão com mais clareza para escapares dos castigos eternos e alcançares os bens eternos de Deus (...) Amigo, tu replicaste: "Mostra-me teu Deus". Pois bem: esse é o meu Deus, e te aconselho que o temas e creias nele. (I Livro a Autólico Cap. 14)

Teófilo não apenas conta sua história pessoal de conversão pela leitura das Escrituras, mas também recomenda sua leitura, pois é uma guia claro para a salvação.

Do mesmo modo falaram os outros profetas da verdade. Para que enumerar toda a multidão de profetas, que foram muitos e disseram infinitas coisas, coerentes e concordes entre si? Os que quiserem podem, lendo seus escritos, conhecer exatamente a verdade e não extraviar- se em especulação e trabalho inútil. (II Livro a Autólico Cap. 35)

Ele vê as Escrituras como algo que pode ser lido e compreendido. Não há nada nas obras de Teófilo que aponte para um magistério infalível necessário para interpretação correta dos livros sagrados.

Taciano (120 – 180)

Tendo visto isso tudo, e também depois que me iniciei nos mistérios e examinei as religiões de todos os homens, instituídas por eunucos efeminados, encontrando entre os romanos aquele que eles chamam de Júpiter Laciar, que se compraz em sacrifícios humanos e no sangue dos executados; que Diana, não longe da grande cidade, exigia o mesmo tipo de sacrifícios; por fim, que numa parte um demônio, e em outra, outros se entregavam em perpetrar iniquidades semelhantes, entrando em mim mesmo, comecei a perguntar-me de que modo ser-me-ia possível encontrar a verdade. Em meio às minhas graves reflexões, caíram-me casualmente nas mãos algumas Escritu­ras bárbaras, mais antigas que as doutrinas dos gregos e, se considerarmos os erros destes, são realmente divinas. Tive que acreditar nelas, por causa da simplicidade de sua língua, pela maturidade dos que falam, pela fácil compreensão da criação do universo, pela previsão do futuro, pela excelência dos preceitos e pela unicidade de comando do universo. Com a alma ensinada pelo próprio Deus, compreendi que a doutrina helênica me levava para a condenação; a bárbara, porém, livrava-me da escravidão do mundo e me afastava de muitos senhores e tiranos infini­tos. Ela nos dá, não o que não tínhamos recebido, mas o que, uma vez recebido, o erro nos impedia de possuir. (Discurso contra os Gregos Cap. 29)

Temos o importante testemunho de conversão desse autor Cristão primitivo que chegou à verdade lendo diretamente as Escrituras. Em seu discurso, exalta a superioridade das Escrituras em relação aos escritos helênicos, atribuindo-lhe uma série de características que implicam na clareza das Sagradas Letras que são suficientes para salvar o pecador.

Clemente de Alexandria (150-215)

Agora é o momento, como já mostramos em outros pontos, para ir às Escrituras proféticas; para os oráculos oferecidos a nós com os instrumentos necessários para o conhecimento da piedade, e então estabelecer a verdade. As Escrituras Divinas e Instituições da sabedoria divina formam a estrada curta para a salvação. Desprovida do embelezamento, da beleza exterior de dicção, de palavreado e sedução, elas levantam a humanidade estrangulada pela maldade, ensinando os homens a desprezar os infortúnios da vida; e com uma única e mesma voz remediam muitos males, que ao mesmo tempo nos dissuade do engano maligno, e claramente nos exorta para o conhecimento da salvação diante de nós. (Exortação aos pagãos cap. 8)

Não requer muitos comentários. A Escritura não tem apenas o conteúdo necessário para nossa salvação, ela também apresenta este conteúdo de forma clara.

Mas a piedade, que faz o homem, tanto quanto pode ser, como Deus, designa Deus como nosso professor adequado, o único que pode dignamente assimilar o homem a Deus. Este ensinamento do apóstolo conhecido como verdadeiramente divino. "Tu, ó Timóteo," diz ele, "desde criança sabe as letras sagradas, que são capazes de tornar-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus." Verdadeiramente santas são aquelas letras que santificam e deificam; e os escritos ou volumes que consistem essas letras sagradas e sílabas, o mesmo apóstolo, consequentemente, chama de "inspirado por Deus, sendo útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." Ninguém será tão impressionado com as exortações de qualquer dos santos, como ele é pelas palavras do próprio Senhor, que ama o homem. Por isso, e nada mais que isso, é o seu único trabalho - a salvação do homem. Portanto Ele mesmo, instando-os sobre a salvação, grita: "O reino dos céus está próximo." Aqueles homens que se aproximam com temor, convertem-se. Assim também o apóstolo do Senhor, suplicando aos macedônios, torna-se o intérprete da voz divina, quando diz: "O Senhor está perto; tomem cuidado para que não sejais encontrados inúteis". Mas que sois tão desprovidos de temor, ou melhor, de fé, de forma a não acreditar que o Senhor mesmo, ou Paulo, que em lugar de Cristo suplica assim:". Provai e veja que Cristo é Deus? " A fé vai levar você; experiência vai lhe ensinar; Escritura irá treiná-lo, pois ele diz: "Vem, ó filhos; escute-me, e eu vos ensinarei o temor do Senhor. "Então, como para aqueles que já creem, ele brevemente acrescenta:" Quem é o homem que deseja a vida, que ama ver bons dias? "É o que nós diremos - nós que somos os devotos de bem, nós que desejamos ansiosamente coisas boas. Ouvi, então, vós que estais longe, ouvi os que estão perto: a palavra não foi escondido de ninguém; a luz é universal, ela brilha "sobre todos os homens." (Ibid., cap. 9)

Clemente atribui função magisterial às Escrituras. Ela em si, sem um intérprete exclusivo, treina o homem. A luz dessa mensagem brilha sobre todos os homens.

É, portanto, de nenhuma vantagem para eles após o fim da vida, mesmo que eles façam boas obras agora, se eles não têm fé. Por isso também as Escrituras foram traduzidas para a língua dos gregos, a fim de que eles nunca aleguem a desculpa da ignorância, na medida em que eles são capazes de ouvir também o que temos em nossas mãos, se eles apenas desejarem. Fala-se de uma forma da verdade, de uma outra maneira a verdade interpreta a si mesma. A adivinhação na verdade é uma coisa, e a própria verdade é outra. A semelhança é uma coisa, a coisa em si é outra. E um é resultado da aprendizagem e prática, o outro de poder e fé. Pois o ensino da piedade é um dom, mas a fé é a graça. "Pois fazendo a vontade de Deus conhecemos a vontade de Deus." Então diz a Escritura, "As portas da justiça; eu vou entrar, e confessar ao Senhor." (Stromata Livro I Cap. 7)

Trata-se de uma forte declaração em favor da suficiência formal. O pai da Igreja diz que os Gregos não podem alegar ignorância, pois também podem ler a Bíblia. A verdade é perceptível a partir da própria Escritura, o que é confirmado pelo trecho “a verdade interpreta a si mesma”.

Por isso, na educação divina, é necessário a imposição de deveres sobre nós, como as coisas ordenado por Deus e fornecidas para a nossa salvação. Mas, das coisas que são necessárias, algumas são para esta vida somente, enquanto outras fazem a alma desejar depois de uma boa vida, no outro mundo, mas é certo que algumas obrigações são impostas meramente para viver, e outras para viver bem. Tudo o que é imposto para a vida material é vinculativo para a multidão, mas o que é voltado para viver bem, isto é, as coisas pelas quais a vida eterna é adquirida, devem ser recolhidas a partir das Escrituras por aqueles que a leem, reunidas pelos menos em suas linhas gerais. (FC, Vol. 23, Clement of Alexandria: Christ the Educator, Chapter 13, §103 (New York: Fathers of the Church, Inc., 1954), p. 91.)

Todas as coisas necessárias para a salvação podem ser obtidas pela leitura das Escrituras. Alguns poderiam alegar que Clemente está defendendo apenas a suficiência material, mas vemos que o meio de conhecer essas coisas é a leitura direta das sagradas letras, o que implica em suficiência formal.

Mas se a filosofia contribui remotamente para a descoberta da verdade, alcançando, por diversos ensaios, após o conhecimento que toca de perto a verdade, o conhecimento possuído por nós ajuda os que pretendem aprende-lo, de acordo com a Palavra, para apreensão do conhecimento. Mas a verdade helênica é distinta daquela mantida por nós (embora ela tenha o mesmo nome), tanto em relação à extensão do conhecimento, certamente manifestado, poder divino, e assim por diante. Pois somos ensinados por Deus, sendo instruído nas "letras sagradas" verdadeiramente pelo Filho de Deus. (Stromata Livro I Cap. 20)

Nós somos ensinados pelo próprio Deus ao sermos instruídos pelas Sagadas Letras. A não ser que Clemente visse Deus como um professor confuso, não há outra implicação possível, senão a perspicácia da Palavra de Deus.

Tertuliano (160 – 220)

Mas o que os impede de perceber prontamente esta comunidade dos títulos do Pai, no Filho, é a declaração das Escrituras, sempre que determina que Deus é apenas um; como se a mesmíssima Escritura não tinha também previsto os dois tanto como Deus e Senhor, como mostramos acima. Seu argumento é: Uma vez que encontramos dois e um, portanto ambos são um e o mesmo, ambos Pai e Filho. Agora, a Escritura não está em perigo de exigir a ajuda do argumento de ninguém, para que não pareça autocontraditória. Ele tem um método próprio, tanto quando se estabelece um único Deus, e também quando ele mostra que há dois, pai e filho; e é consistente com o próprio [isto é, suficiente em si, suficit Sibi, PL 2: 177]. É claro que o filho é mencionado por ela. Pois, sem qualquer prejuízo para o Filho, é bem possível que ela [Escritura] tenha razão determinando que Deus é um só, a quem o Filho pertence; uma vez que Ele que tem um filho que não deixa de existir, - mesmo sendo apenas um, isto é, por si mesmo, sempre que Ele é nomeado sem o Filho. (Contras Práxeas Cap. 18)

Tertuliano defende que as Escrituras são suficientes por si mesmas, elas não precisam de alguém para apoiar ou confirmar seus argumentos.

Ele, portanto, não será um cristão que deverá negar essa doutrina que é confessado pelos cristãos; negá-lo, além disso, por razões que são adotadas por um homem que não é cristão. Leve em conta, de fato, desde que os hereges compartilham da sabedoria com os pagãos, e deixam de apoiar seus pedidos da Escritura somente: eles vão, então, ser incapazes de manter seu fundamento. Pois o que elogia o senso comum dos homens é muito simplório, e sua participação nos mesmos sentimentos, e sua comunidade de opiniões; e é considerado o mais confiável de todos, na medida em que as suas declarações definitivas estão nuas e abetas, e conhecida por todos. Razão divina, pelo contrário, está na própria essência e medula das coisas, não na superfície, e muitas vezes está em desacordo com as aparências. (Sobre a Ressurreição da Carne Cap. 3)

Essa citação é importante por que Tertuliano está tratando da questão da heresia. Apologistas católicos argumentam que os hereges usavam a Bíblia para fundamentarem suas crenças, e que somente com um magistério infalível, a Igreja poderia ser preservada do erro. O pai latino não cria nisso. Ele apontou que um dos erros dos hereges era não fundamentar suas doutrinas na Escritura somente (precisamente como fazem os romanistas), mas utilizavam da sabedoria pagã. Um exemplo de como os romanistas se parecem com os hereges atacados por Tertuliano é a transubstanciação – uma ideia importada da filosofia aristotélica e não das Escrituras.

Orígenes (185 – 253)

Celso prossegue dizendo que o sistema de doutrina, isto é, o judaísmo, do qual o Cristianismo depende, foi bárbaro em sua origem. E com uma aparência de justiça, ele não afronta o cristianismo por causa de sua origem entre os bárbaros, mas dá o último crédito por sua habilidade em descobrir tais doutrinas. Para isso, no entanto, acrescenta a confirmação, de que os gregos são mais hábeis do que qualquer outro no julgamento, estabelecimento, e prática das descobertas de nações bárbaras. Agora esta é a nossa resposta às suas alegações, e nossa defesa das verdades contidas no cristianismo, que se qualquer vir estudar as opiniões gregas e usos do Evangelho, ele não só vai decidir que suas doutrinas eram verdadeiras, mas pela prática estabelecerá a sua verdade, e fornecer o que parecia querer, de um ponto de vista grego, para sua manifestação, e, assim, confirmar a verdade do cristianismo. Nós temos que dizer, além disso, que o Evangelho tem uma manifestação própria, mais divina do que qualquer outra estabelecida pela dialética grega. E este método é chamado pelo apóstolo de "a manifestação do Espírito e do poder do Espírito", por conta das profecias, que são suficientes para produzir a fé em qualquer um que as lê, especialmente naquelas coisas que se relacionam a Cristo; e de "poder", por causa dos sinais e maravilhas que acreditamos terem sido realizados, por muitos outros motivos e por este, que sinais deles ainda estão preservados entre os que orientam as suas vidas pelos preceitos do Evangelho. (Contra Celso Livro I Cap. 2)

Orígenes defende a perspicácia das Escrituras ao dizer que ao estudar as opiniões gregas e os Evangelhos, o indivíduo chegará à conclusão da veracidade do Cristianismo. Também afirma a capacidade das Escrituras produzirem por si mesma a fé salvadora em que as lê.

Quanto mais se lê diariamente as Escrituras e a compreensão aumenta, mais renovado será todos os dias. Duvido que uma mente que é preguiçosa com as Sagradas Escrituras e o exercício do conhecimento espiritual possa ser renovada totalmente. (Gerald Bray, ed., Ancient Christian Commentary on Scripture, New Testament VI: Romans (Downers Grove: InterVarsity Press, 1998), p. 308.)

Ele afirma o aumento da compreensão das Escrituras mediante sua leitura diária.

Se quisermos conhecer algo sobre as coisas secretas e ocultas de Deus e se não somos pessoas de paixões e contendas, então vamos inquirir fielmente e com humildade os juízos de Deus que estão contidos mais secretamente nas Sagradas Escrituras. Pois o próprio Senhor disse: Examinai as Escrituras, sabendo que essas coisas são aplicáveis não para aqueles que estão ocupados com outros assuntos e apenas ouvem ou leem a Bíblia de vez em quando, mas para aqueles que com um esforço puro e simples de coração abrem as sagradas Escrituras por seu trabalho e atenção constante. Eu sei muito bem que eu não sou um deles! Mas quem é, deixá-lo buscar e ele vai encontrar. (Gerald Bray, ed., Ancient Christian Commentary on Scripture, New Testament VI: Romans (Downers Grove: InterVarsity Press, 1998), pp. 259-260.)

Uma afirmação clara da suficiência formal. Ele afirma que basta diligentemente e com esforço estudar os escritos sagrados para compreender suas verdades.

E agora, o que temos chamado de a autoridade das Escrituras deveria ser suficiente para refutar os argumentos dos hereges. (De Principiis Livro II Cap 5)

Se a Escritura não pode ser entendida sem a tradição ou magistério, qualquer apelo à suficiência das Escrituras para refutar hereges seria inócua.

As pessoas de inteligência que desejam estudar a Escritura também podem descobrir o seu significado por si mesmas. (Contra Celso Livro VII Cap. 11)

Orígenes estava atacando a alegação de Celso de que as Escrituras tinham um sentido obscuro e subjetivo.

As verdades mais profundas são descobertas por aqueles que sabem como ascender de uma fé simples e investigar o significado que subjaz nas Escrituras divinas, conforme as admoestações de Jesus, que disse ‘Examinai as Escrituras’, e o desejo de Paulo, que ensinou que ‘devemos saber como responder a todo o homem’, sim, e também de quem disse ‘estai sempre preparados para dar uma resposta a todo aquele que vos pedir a razão da fé que há em vós’. (Contra Celso Livro III Cap. 33)

Firmiliano de Cesareia (200-268)

Mas eles alegam e dizem, em nome dos hereges, que o apóstolo disse: "ou por fingimento ou por verdade, Cristo seja anunciado," é inútil para nós responder; quando é manifesto que o apóstolo, na epístola em que disse isso, nem fez menção de hereges, nem de batismo dos hereges, mas falou de irmãos somente, seja falando em acordo consigo mesmo, ou como perseverantes na fé sincera; nem é necessário discutir isso num longo argumento, mas é suficiente ler a própria carta, e extrair do próprio apóstolo o que ele disse. (Epístola 74 de Cipriano)

Obviamente o bispo de Cesareia está tratando uma questão doutrinária específica, mas é uma evidência de sua hermenêutica geral. Não era preciso de outra autoridade para se chegar ao significado do texto em questão, bastaria a leitura da carta paulina.

Cipriano de Cartago (? – 258)

Cipriano a seu filho Quirino, saudação. Era necessário, meu amado filho, para que ouvisse seu desejo espiritual, que perguntou por meio de petição urgente pelos ensinamentos divinos com que o Senhor condescendeu em nos ensinar e instruir pelas Sagradas Escrituras, que, sendo conduzido para longe da escuridão do erro, e iluminado por sua luz pura e brilhante, poderemos manter o modo de vida por meio dos sacramentos da salvação (...) Mas eu inclui em minha tarefa dois livros de comprimento igualmente moderado: um em que tenho me esforçado para mostrar que os judeus, de acordo com o que antes tinha sido predito, havia deixado Deus, e perdido o seu favor, que havia sido dado a eles em tempo passado, e que tinha sido prometido para o futuro; enquanto os cristãos tinham sucedido ao seu lugar, merecendo o bem do Senhor pela fé, e vindo de todas as nações e de todo o mundo. O segundo livro contém igualmente o sacramento de Cristo, que Ele veio, que foi anunciado, segundo as Escrituras, e tem feito e aperfeiçoado todas essas coisas pela qual Ele foi profetizado como sendo capaz de ser percebido e conhecido. E estas coisas podem ser de vantagem enquanto lê, para formar os primeiros traços de sua fé. Mais força vos será dada, e a inteligência do coração será estabelecida cada vez mais, tanto quanto você examinar mais plenamente as Escrituras, velho e novo, e ler os volumes completos dos livros espirituais. Por agora, temos preenchido uma pequena medida das fontes divinas, que gostaríamos de enviar para você. Você será capaz de beber mais abundantemente e ser mais plenamente satisfeito, se você também se aproximar e beber junto conosco nas mesmas fontes de plenitude divina. Eu convido você, meu filho amado, sempre com vontade de despedida. (Tratado XII, Livro 1, Prefácio)

Cipriano a seu filho Quirino, saudações. De sua fé e devoção que você manifesta no Senhor Deus, amado filho, você me pede para juntar das Escrituras Sagradas para sua instrução algumas passagens importantes sobre o ensino religioso de nossa escola; buscando por um curso sucinto de leitura sagrada, para que sua mente, entregue a Deus, não possa ser esgotada com longos ou numerosos volumes de livros, mas, instruída com um resumo dos preceitos celestiais, possa ter um saudável e largo compêndio para alimentar sua memória. E por que eu te devo uma abundante e amorosa obediência, eu fiz o que você desejava. Eu trabalhei por uma vez, para que você nem sempre trabalhe. Então, tanto quanto minha pequena habilidade pudesse abraçar, eu compilei certos preceitos do Senhor e ensinos divinos, que possam ser fáceis e úteis para os leitores, no que poucas coisas digeridas em um pouco espaço são lidas rapidamente e são frequentemente repetidas. Eu desejo a você, amado filho, sempre uma despedida de coração. (Tratado XII, Livro 3, Prefácio)

Cipriano via as Escrituras como suficientes em si mesmas para instrução. Ao escrever esse tratado, o bispo de Cartago não estava produzindo comentários da Bíblia, mas uma compilação de ensinamentos fáceis de serem aprendidos pelos leitores. A ideia é que Quirino, ao ler os preceitos bíblicos, seria conduzido para “longe da escuridão do erro”.

Hipólito de Roma (170 – 236)

Desta forma, eles escolhem expor estas coisas, e fazem uso somente de uma classe de passagens; da mesma maneira unilateral que Theodotus empregou quando tentou provar que Cristo era um mero homem. Mas nem uma parte nem outra têm entendido do assunto, com razão, como as próprias Escrituras refutam sua insensatez e atestam a verdade. Veja, irmãos, o dogma audacioso que eles introduzem, quando dizem sem vergonha que o Pai é o próprio Cristo, Ele mesmo é o Filho, Ele mesmo nasceu, Ele mesmo sofreu, Ele mesmo ressuscitou a si mesmo. Mas não é assim. As Escrituras falam o que é certo; mas Noetus é de uma opinião diferente deles. No entanto, embora Noetus não entenda a verdade, as Escrituras não devem ser repudiadas. Por que não dizer que há um só Deus? No entanto, ele não vai nessa descrição negar a economia (ou seja, o número e disposição das pessoas da Trindade). A maneira correta, portanto, para lidar com a questão é antes de tudo refutar a interpretação destes homens sobre essas passagens, e, em seguida, explicar seu significado real. Pois é certo, em primeiro lugar, expor a verdade que o Pai é um Deus, "de quem é toda família", "por quem são todas as coisas, de quem são todas as coisas, e nós nele." Vamos, como eu disse, ver como ele é refutado, e então vamos expor a verdade. Agora, ele cita as palavras, "o Egito tem trabalhado, e as mercadorias da Etiópia e os sabeus", e assim por diante para as palavras: "Pois Tu és o Deus de Israel, o Salvador." E estas palavras, ele cita sem entender o que as precede. Pois sempre que eles desejam tentar qualquer coisa desleal, eles mutilam as Escrituras. Mas deixe que ele cite a passagem como um todo e ele irá descobrir a razão mostrada no escrito. (Contra a Heresia de Noeto, §§3-4)

Hipólito diz que as Escrituras em si refutam a heresia cristológica em questão e atestam a verdade. Se o herege Noeto ler a passagem em todo o seu contexto, descobrirá o real significado. Apologistas católicos costumam citar as heresias cristológicas como uma evidência da obscuridade da Bíblia. Hipólito afirma que a heresia deve ser repudiada porque Noeto não compreende a verdade. A causa da heresia é a falta de cuidado ao lidar com os escritos sagrados e o pecado dos próprios hereges que desejam mutilar as Escrituras para estabelecerem suas opiniões.

Há, porém, irmãos, um só Deus, o conhecimento que ganhamos das Sagradas Escrituras, e de nenhuma outra fonte. Pois, assim como um homem, se deseja ser especialistas na sabedoria deste mundo, vai encontrar-se incapaz de chegar a ela se não dominar os dogmas dos filósofos, assim todos nós que desejamos praticar a piedade somos incapazes de aprender de qualquer outro que não seja os oráculos de Deus. Tudo que as Sagradas Escrituras declararem, para elas olhemos; e tudo o que elas ensinam, vamos aprender; e como o Pai quer que confiemos, vamos acreditar; e como quer o Filho ser glorificado, vamos glorificá-Lo; e como quer o Espírito Santo ser recebido, vamos recebê-Lo. Não de acordo com nossa própria vontade, nem de acordo com a nossa própria mente, nem ainda usando violentamente aquelas coisas que são dadas por Deus, mas como Ele escolheu ensina-las pelas Sagradas Escrituras, vamos discerni-las. (Contra a Heresia de Noeto, §9)

Não havia duas fontes de doutrina (Escritura + Tradição), apenas uma. Além disso, nós devemos aprender tudo que a Escritura ensina, não o que um magistério diz que a Escritura ensina, mas o que diretamente nos ensina. Ele atribui a função magisterial à própria Escritura ao dizer que Deus “escolheu nos ensinar pelas Sagradas Escrituras” e “vamos discerni-las”, ou seja, vamos examiná-las e entende-las.

Gregório Taumaturgo (213 – 270)

Com relação aos professores humanos, de fato, ele nos aconselhou a não nos prendermos a nenhum deles, nem mesmo se eles foram atestados como o mais sábio de todos os homens, mas a nos dedicar a Deus somente e aos profetas. E ele próprio se tornou intérprete dos profetas (ὑποφητεύων) para nós, e explicou tudo que estava escuro ou enigmático neles. Há muitas coisas desse tipo nas palavras sagradas e Deus tem prazer de manter comunicação com os homens, de tal forma que a palavra divina não pode entrar totalmente pura numa alma indigna, como muitos são, ou seja, embora cada oráculo divino seja em sua própria natureza muito claro e perspicaz, parece obscuro para nós, que temos apostatado de Deus, e temos perdido a capacidade de ouvir através do tempo e idade. Mas se existem algumas palavras realmente enigmáticas, ele explicou todas elas, e as colocou na luz, sendo ele mesmo um ouvinte hábil e que compreendia Deus; ou se nenhuma delas é realmente obscura em sua própria natureza, elas também não eram ininteligíveis para ele, que é o único de todos os homens do tempo presente com quem me familiarizei, ou de quem tenho ouvido pelo relato dos outros, que tem profundamente estudado os oráculos claros e luminosos de Deus, sendo capazes de perceber o seu significado em sua própria mente e transmiti-lo aos outros. Por isso, o Líder de todos os homens, que inspirou (ὑπηχῶν) os queridos profetas de Deus, sugere todas as suas profecias e sua mística e palavras celestiais, honrou esse homem como se fosse um amigo, e ele constituiu um expositor destes mesmos oráculos; e as coisas das quais Ele só deu uma dica por outros, Ele fez matéria de instrução completa por meio deste homem; e nas coisas que Ele, que é digno de toda a confiança, tanto prescritas de forma régia, ou simplesmente enunciadas, ele transmitiu a este homem o dom de investigar, desdobrar e explicá-las, de modo que, se não é de mente obtusa e incrédula, e tem sede de instrução, pode aprender com este homem, e de alguma maneira ser constrangido a entender e decidir por convicção seguir a Deus. Essas coisas como eu julgo, ele dá única e verdadeiramente por participação no Espírito Divino: pois há necessidade do mesmo poder para aqueles que profetizam e para aqueles que ouvem os profetas; e ninguém pode justamente ouvir um profeta, a menos que o mesmo Espírito que profetiza confere a ele a capacidade de apreender as Suas palavras. E esse princípio é expresso de fato nas Sagradas Escrituras, quando se diz que somente Ele e nenhum outro abre e fecha  (Is 22:22; Ap 3: 7.); e o que está fechado é aberto quando a palavra de inspiração explica os mistérios. Agora, o maior presente que este homem recebeu de Deus, e o mais nobre de todos os dons que recebeu do céu é que ele deveria ser um intérprete das palavras de Deus aos homens (Ef. 3:8-9), e que ele poderia entender as palavras de Deus, como se Deus falasse a ele, e poderia contá-las aos homens com tanta sabedoria que eles poderiam ouvi-lo com inteligência. Portanto, para nós não há assunto proibido de falar (ἄῤῥητον); pois não havia matéria de conhecimento oculto ou inacessível para nós, mas tínhamos em nosso poder para aprender todo o tipo de discurso, tanto estrangeiros (Bárbaros) e grego, tanto espiritual e político, divino e humano; e nós fomos autorizados com toda a liberdade para examinar todo conhecimento, e investigá-lo, e nos satisfazer com todos os tipos de doutrinas e desfrutar docemente o intelecto. (The Oration and Panegyric Addressed to Origin, Argument XV)

Gregório diz que a Escritura é clara por natureza. Se alguém não consegue compreende-la é porque tem a mente obscurecida, ou seja, o problema está no leitor. A solução é a iluminação do Espírito Santo que faz o homem decidir seguir a Deus. Segundo Gregório, as profecias que eram de sentido enigmático foram esclarecidas por Jesus Cristo, o que mostra o princípio protestante da “Escritura interpreta a Escritura” sendo defendido por este antigo pai da Igreja. Partes mais claras lançam luz sobre partes mais difíceis da Bíblia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não serão aceitos comentários que;

- Tenham ofensas;
- Não sejam pertinentes ao tema do artigo;
- Sejam Ctrl C + Ctrl V de outros blogs e sites.

É permitido citar outras blogs e sites, desde que o comentarista apenas post o link do artigo ou cite trechos do artigo. A cópia integral não será permitida.